Aos 20 x aos

Aos 20 anos, qualquer estrada serve. Mesmo que seja esburacada, ou de terra, ou vá de nada a lugar nenhum. O que vale é a experiência e está tudo bem. Mesmo que o pneu fure, que a gasolina acabe ou que o destino final mude. Aos 30, já sabemos qual estrada é a melhor ou, pelo menos, consegue-se perceber quais são as erradas antes de embarcar em uma. O porta-malas está cheio de bagagem, calcula-se quantos km se roda com um litro de gasolina, há um mapa no porta-luvas e pneus novos. Importa, sim, e muito, o destino.

Aos 20 anos, existe uma grande dose de paciência com os próprios erros. Todos dizem “ainda dá tempo”: de mudar de emprego, de trocar de faculdade, de viajar o mundo, de encontrar um amor ou um rumo. Aos 30, mudar de emprego passa a considerar variáveis mais numéricas, trocar de carreira e seguir um sonho soa como uma besteira infantil e, para viajar o mundo, espera-se a baixa do dólar.

Por outro lado, aos 20, o peso de pertencer a um grupo é maior, os padrões que a sociedade impõe atormentam e as normativas da família perturbam. Aos 30, se é mais livre. Nem que seja um pouco. Se a roupa aperta, não importa. Se a decisão não agrada a todos, não se lamenta. Se não queremos algo que todos querem, e daí? E vice-versa, tanto faz. A dona de mim sou eu, afinal de contas.

Aos 20, se a mensagem não chega, se o telefone não toca, se o relacionamento termina, a vida vai junto e parece o fim do mundo. Não se percebe as lacunas no discurso dos outros, nem as mentiras, ou as máscaras. Aos 30, desvenda-se mais rápido a premissa de cada um, a intenção por trás do sorriso e os furos na personalidade. Não há tempo – muito menos paciência – para conviver com quem é de mentira. E, se o relacionamento termina, enquanto se chora também se escreve uma lista do que fazer de diferente da próxima vez.

Aos 20, colecionam-se colegas que chamamos de amigos. Aos 30, tem-se uma meia dúzias de amigos e não nos sentimos sozinhos.

Se aos 20 reunimos todo o material que nos construirá, aos 30 estabelecemos residência e sabemos quem somos. Pelo menos numa parte maior do tempo. E isso é bom.

Não, não quero casar. Não, não quero ter filhos. E não, não preciso me explicar. Já sou crescida. Tenho 30.

 

Fonte: Escrito por Ruh Dias via Obvious

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