Existe apenas uma coisa pior do que a infelicidade: a falsa felicidade!

Quantas vezes não nos dizem que fizemos a coisa certa e ficamos satisfeitos com tal aceitação, mas lá no fundo, estamos tristes, vazios, meio mortos? Se alguém ou nós mesmos precisamos dizer que fizemos a coisa certa é porque na realidade não temos tanta certeza disso. Toda pessoa que tenta provar demais que fez a melhor escolha , que está bem, que tem uma vida plena , o relacionamento perfeito, a carreira dos sonhos, normalmente, apresenta alguma dúvida muito séria ou uma lacuna existencial muito grande que precisa ser preenchida com gestos e palavras que confirmem uma falsa felicidade, um falso sucesso, uma falsa força interior.

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Sim, a falsa felicidade ou o autoengano pode ser a mais vil forma de infelicidade. Quando somos infelizes, mas forjamos para o mundo e para nós mesmos que somos felizes, fica muito complicado, para não dizer, praticamente impossível, construir uma vida feliz.

Quando assumimos as falhas que existem em nossa vida e nos concentramos em mudar aquilo que pode ser mudado e nos conformar com aquilo que não pode ser mudado, temos 50% de chance de sucesso em nossa empreitada. Se nos fechamos dentro de nós mesmos e nos recusamos a encarar o que nos faz sofrer , provavelmente viveremos uma vida sem sentido por tempo indeterminado. Muitas pessoas quando estão em um estágio terminal de alguma doença fatal, costumam se arrepender por terem construído suas vidas sobre autoenganos. Se arrependem por terem vivido com pouca autenticidade, seguindo à risca um script social, deixando em segundo plano as coisas que realmente importam, vivendo de acordo com aquilo que os outros esperam de nós.

O professor e filósofo Mário Sérgio Cortella , ao falar sobre felicidade, estabelece diferenciações importantes como, por exemplo, os conceitos de fundamental e essencial e os conceitos de felicidade e euforia. Estar feliz não é estar eufórico, por conta de uma tarde de compras no shopping ou por causa de uma bebedeira. Tampouco , a felicidade tem a ver com conformismo, com a ilusão de que estamos bem porque estamos sendo aceitos e aplaudidos por quem está ao nosso redor. Muitas vezes as pessoas nos aplaudem porque realmente fazemos coisas valorosas, admiráveis. Em outros momentos, as pessoas nos aplaudem porque , de alguma forma, estamos atendendo aos interesses delas, estamos abrindo mão daquilo que realmente queremos e precisamos para evitar conflitos. Enfim, estamos abrindo mão da nossa felicidade para que a rotina alheia e a nossa própria fique organizada.

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Quantas vezes não nos dizem que fizemos a coisa certa e ficamos satisfeitos com tal aceitação, mas lá no fundo, estamos tristes, vazios, meio mortos? Se alguém ou nós mesmos precisamos dizer que fizemos a coisa certa é porque na realidade não temos tanta certeza disso. Toda pessoa que tenta provar demais que fez a melhor escolha , que está bem, que tem uma vida plena , o relacionamento perfeito, a carreira dos sonhos, normalmente, apresenta alguma dúvida muito séria ou uma lacuna existencial muito grande que precisa ser preenchida com gestos e palavras que confirmem uma falsa felicidade, um falso sucesso, uma falsa força interior.

Quem é interiormente forte, não precisa dizer o tempo todo que é. Quem acredita realmente que a vida é boa, não precisa enviar corações e borboletas brilhantes pelas redes sociais todos os dias. Quem ama e se sente amado, não precisa tentar provar a ninguém que está feliz. Quem está feliz de fato, não perde tempo documentando a própria felicidade. Quem se sente realizado em seu trabalho, não precisa afirmar constantemente a sua competência. As pessoas percebem quem é competente , quem é feliz , quem ama e é amado, quem é forte interiormente etc As melhores realizações e relacionamentos acontecem em silêncio, sem plateia. A necessidade de exposição social surge quando não estamos mais tão convencidos da nossa felicidade.

Críticas severas são feitas às redes sociais, mas a ostentação já existia muito antes delas. As redes sociais simplesmente botaram uma lente de aumento em algo que já existia. Faz parte da natureza humana tentar enganar os outros e a si mesmo.

A sociedade considera as pessoas sensíveis, que choram, que falam de seus problemas , que se assumem tristes, como seres fragilizados. Mas talvez, o mais frágil de todos é aquele que se define como onipotente , capaz de qualquer realização, capaz de enfrentar qualquer desafio. Fragilizado talvez seja aquele que nunca assume uma grande dor, uma grande perda e que se esconde por detrás de uma máscara de perfeição como alguém que joga toda a bagunça dentro dos armários.

Sabemos que algumas pessoas precisam realmente construir redomas de mentiras para sobreviverem ao mundo. Nem todo mundo consegue encarar a realidade, até mesmo porque a realidade é muito dura e sofrida. Sabemos que algumas mentiras sustentam o emocional de pessoas muito fragilizadas, incapazes de andar com as próprias pernas , sem usar alguém ou uma situação como muleta. Mas felizmente ou infelizmente , a verdade sempre vem à tona, mais cedo ou mais tarde. E se a pessoa acostumada ao autoengano for pega de repente , de surpresa, o estrago pode ser muito grande.

Por tal razão, me parece, que ingerir doses homeopáticas de realidade pode ser muito benéfico para qualquer pessoa que deseja de fato construir uma vida consistente, pautada por conquistas verdadeiras, mesmo que pequenas. Mais vale um pequeno feito do que uma grande realização de mentira.

 

 

Silvia Marques

SILVIA MARQUES

Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas. Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O mundo é o meu palco e minha sala de aula , meu laboratório maluco. Degusto novos conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida. Apaixonada por artes em geral, filosofia , psicanálise e tudo que faz a pele da alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre eles estão “Como fazer uma tese?” ( Editora Avercamp) , “O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas” e “Sociologia da Educação” ( Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013.

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