Sobre raízes e asas
Tem gente que não se importa em ficar a vida inteira no mesmo lugar, tem gente que não consegue nem ficar oito horas em uma mesma sala. Tem gente que nasceu com raízes, outros com asas. Você é do tipo que vai ou do que fica?
O mundo está dividido em diversos tipos de pessoas: as que gostam mais do mar, as que preferem campo. As que esperam o inverno, as que aguardam com afinco o verão. E existem também as que ficam e as que vão.
Não é fácil ser do tipo que fica, nem do tipo que vai. Por vezes, quem fica sente vontade de ir, já quem vai, sente uma imensa vontade de ficar. É difícil entender que não há possibilidade de ter asas e raízes ao mesmo tempo, ou então jogar a âncora na areia e içar velas. Você faz ou um ou outro. Algumas raras pessoas conseguem mudar, afinal estamos em eterna mudança, mas é difícil aquietar algo que já vem dentro da gente.
Aqueles que ficam sentem-se bem assim, e abandonar – pessoas, lares, cidades, lembranças, é algo muito difícil. Quando a vida os incita a ir, eles preferem continuar ali. Por vezes, são chamados de acomodados – anos no mesmo emprego, anos com a mesma pessoa, nunca deixou sua cidade. E a vida, e o mundo? Esses questionamentos podem mexer com eles, atiçar algo em seus corações, mas quando olham a sua volta, apenas entendem. Podem ir, desde que a condição seja voltar, rapidamente. Eles querem ficar.
Acontece, por vezes, de pessoas que ficam se apaixonarem por pessoas que vão. Daí a vontade de içar e ancorar, criar raízes e voar, correr e ficar parado. Eu poderia aqui escrever conselhos, poderia dizer fica, vai, espera, aceita. Mas nada posso dizer. O amor é movimento, energia, é vida pulsando dentro e fora de nós, e exatamente por isso é muito pessoal. A única coisa que me arrisco em falar é: Sinta. Se permita. Amplie o sentimento, não guarde para si. E aceite o tipo de pessoa que o outro é também. “É difícil aprisionar os que tem asas”, disse o poeta. Também é difícil arrancar os que são feitos de raízes.
Artigo escrito por Cristina Souza, publicado originalmente em Ano Zero.
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