Se apaixonar por alguém é uma das tarefas mais corajosas nesta vida. Porque para se apaixonar você se doa, retira do peito todas as barreiras, retira do comportamento todo o resto de bom senso e se joga.
Lembra de quando era criança e ia para a escola e quando estava quase chegando ao portão as tais borboletas voavam no estômago descompassadas porque o garoto bonito da 1ª série B sentava do seu lado e, poderia ser que ele te pedisse a borracha emprestada?
Aí você cresce e espera que o alvo dos seus sentimentos mais inexplicáveis te peça o coração, e mesmo que não peça – você já entregou assim, de mão beijada.
Você leu alguns textos sobre a importância de não se apegar e sobre não criar expectativas e de repente está à toa ouvindo Apenas mais uma de amor do Lulu Santos. E se amanhã não for nada disso?
Estava refletindo sobre como o exercício de se apaixonar, de se lançar em sentimentos a desvendar o outro, em como todo esse emaranhado de sentimentos requer uma coragem intensa. Se amanhã não for nada disso, caberá só a quem esquecer? A você. Apenas a você. Já pensou nisso?
É engraçado… Mas se as coisas não saíram como você queria que fosse, se pior, se o desfecho do que tinha tudo para rolar, foi péssimo, caberá apenas a você o esforço para superar.
E você ouve uma música mais alto astral aqui, vê um filme mais ‘alegrinho’ acolá e entre um cinema com os amigos e um passeio solitário em um canto qualquer, aquela história que estava remexendo seu estômago nos últimos dias se transforma em lembrança. E coube a quem o esforço?
Engraçado é que o que costumava e costuma (porque vivi uma história recente) me ajudar a esquecer algo que não deu certo é pensar que a pessoa alvo dos meus sentimentos está com malas prontas para Las Vegas (risos). Porque o grandioso em se apaixonar, em se doar, em SE DAR é exatamente a capacidade de fazer “o papel de trouxa” (risos) sem se importar em ser a personagem principal e o mais sublime: sem esperar nada em troca. Claro, você queria ser correspondido, eu sei, mas você não esperava se apaixonar e esse foi o exercício corajoso e solitário ao qual se prestou porque o coração está sempre aberto e agora o alvo desses sentimentos não pode te retribuir à altura e você não espera que isso aconteça… Por que quem seria tão tolo e bobo quanto você?
Minha primeira paixão foi aos onze anos, por um garoto chamado Bruno, eu gostava tanto de uma pinta que ele tinha na bochecha e da maneira que ele sorria pelos olhos! E um dia vi ele no “recreio” com uma garota. Em casa, no meu quarto eu chorava absurdamente, mas no dia seguinte não me importava o fato dele estar com uma garota, me importava sonhar com aquele brilho lindo nos olhos sorridentes que ele tinha, que sorriam para o mundo.
Sabe, depois de muito sofrer, principalmente por paixão não correspondida, a gente pode pensar que ter o coração mole assim não é certo… Mas quer saber? O maravilhoso é ter essa capacidade de sentir, de se dar, de crer no outro, de ver o céu azul em dia de tempestade.
Se amanhã não for nada disso/Caberá só a mim esquecer/ Eu vou sobreviver…
A única parte da canção que discordo é: O que eu ganho, o que eu perco, ninguém precisa saber… Precisam sim, eu quero que saibam que perdi. Eu quero que saibam que abri meu coração como tantas vezes e que não vou deixar de abri-lo. Quero que saibam que já perdi tanto, que meu coração já foi tão despedaçado, mas que no fim, o amor insistente nele sempre deu conta de juntar os inúmeros estilhaços.
O amor ou a paixão que tenta ser amor é o exercício solitário e corajoso de quem não desiste de manter o peito aberto, sem mágoas e sem reservas. Brindemos!
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Apenas mais uma de amor – Lulu Santos